terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os desafios que estão implícitos em fazer parte do Time Sife Santa Cruz

Tudo começou em março de 2009. O Professor Hugo convidou eu e mais uma aluna, Priscila Saito, para criar um projeto para o Sife Brasil. Até então nunca tínhamos ouvido falar disso. Enfim, mesmo sem compreender direito do que se tratava resolvemos aceitar o desafio. E era um belo desafio: criar um projeto, sustentável, que compreendesse os sete critérios Sife, dentre eles empreendedorismo, sustentabilidade, economia de mercado, liderança, e etc. Ah, sim, primeiro preciso dizer o mais importante: o que é Sife?

O Sife é uma organização sem fins lucrativos, que uma vez por ano, nos Campeonatos Sife Brasil em São Paulo, classifica os melhores projetos nacionais, levando o primeiro lugar para o Premio Mundial do Sife, que ano passado foi no Amsterdã. O Sife acredita que o mundo pode ser mudado através do conhecimento e dos negócios, e incentiva os projetos neste sentido. O objetivo do Sife é ligar diretamente os alunos com perfil de liderança aos grandes líderes de grandes empresas, além de fazer com que todo o conhecimento adquirido teoricamente seja colocado em prática. No último campeonato, por exemplo, estivemos na frente de presidentes das empresas KPMG Auditores Independentes, HSBC, Cargill, Wal-Mart Brasil e Kraft Foods. No Campeonato 2009, onde estávamos mesmo para saber como funcionava, surpreendentemente ganhamos o Prêmio Espírito Sife para a Santa Cruz, o que nos estimulou a continuar o time, e cada vez mais fazer por merecer aquele prêmio.

O que se ganha participando do Time Sife Santa Cruz? Além de toda esta carga de experiência que adquirimos neste ano, existe a interação com alunos de outros cursos (hoje o Sife é formado basicamente por estudantes de Economia e Administração, mas existe espaço de trabalho para todas as áreas da faculdade), o desafio de estarmos sendo julgados por grandes nomes do mundo dos negócios, e ainda o aprendizado que levamos vendo os projetos dos outros times. Desenvolvemos capacidades de empreendedorismo, liderança, trabalho em equipe, falar em público, participação em eventos, além de ajudar a melhorar a comunidade local. E ainda, quem faz parte do Time Sife Santa Cruz, tem suas atividades complementares validadas, além de ganhar um grande adicional no seu currículo. Tudo isso com o apoio da faculdade e auxilio dos professores conselheiros quando preciso.

No ano de 2010, eu, Priscila Saito, e Irene Starepravo iremos nos formar, e com isso, não poderemos mais participar do Time Sife, e por isso, estou aqui divulgando que precisamos de mais alunos no time, interessados em crescer individualmente e em grupo. Qualquer área da faculdade é aceita, e quanto mais diversificado ficar, melhor. Venha participar despretensiosamente, apenas para conhecer o time, e quem sabe se gostar, se tornar um de nós.

Walcir Soares da Silva Junior

Presidente Time Sife Santa Cruz

Aluno do 8º Período de Ciências Econômicas



sife@santacruz.br

Os desafios que estão implícitos em fazer parte do Time Sife Santa Cruz


Tudo começou em março de 2009. O Professor Hugo convidou eu e mais uma aluna, Priscila Saito, para criar um projeto para o Sife Brasil. Até então nunca tínhamos ouvido falar disso. Enfim, mesmo sem compreender direito do que se tratava resolvemos aceitar o desafio. E era um belo desafio: criar um projeto, sustentável, que compreendesse os sete critérios Sife, dentre eles empreendedorismo, sustentabilidade, economia de mercado, liderança, e etc. Ah, sim, primeiro preciso dizer o mais importante: o que é Sife?

O Sife é uma organização sem fins lucrativos, que uma vez por ano, nos Campeonatos Sife Brasil em São Paulo, classifica os melhores projetos nacionais, levando o primeiro lugar para o Premio Mundial do Sife, que ano passado foi no Amsterdã. O Sife acredita que o mundo pode ser mudado através do conhecimento e dos negócios, e incentiva os projetos neste sentido. O objetivo do Sife é ligar diretamente os alunos com perfil de liderança aos grandes líderes de grandes empresas, além de fazer com que todo o conhecimento adquirido teoricamente seja colocado em prática. No último campeonato, por exemplo, estivemos na frente de presidentes das empresas KPMG Auditores Independentes, HSBC, Cargill, Wal-Mart Brasil e Kraft Foods. No Campeonato 2009, onde estávamos mesmo para saber como funcionava, surpreendentemente ganhamos o Prêmio Espírito Sife para a Santa Cruz, o que nos estimulou a continuar o time, e cada vez mais fazer por merecer aquele prêmio.

O que se ganha participando do Time Sife Santa Cruz? Além de toda esta carga de experiência que adquirimos neste ano, existe a interação com alunos de outros cursos (hoje o Sife é formado basicamente por estudantes de Economia e Administração, mas existe espaço de trabalho para todas as áreas da faculdade), o desafio de estarmos sendo julgados por grandes nomes do mundo dos negócios, e ainda o aprendizado que levamos vendo os projetos dos outros times. Desenvolvemos capacidades de empreendedorismo, liderança, trabalho em equipe, falar em público, participação em eventos, além de ajudar a melhorar a comunidade local. E ainda, quem faz parte do Time Sife Santa Cruz, tem suas atividades complementares validadas, além de ganhar um grande adicional no seu currículo. Tudo isso com o apoio da faculdade e auxilio dos professores conselheiros quando preciso.

No ano de 2010, eu, Priscila Saito, e Irene Starepravo iremos nos formar, e com isso, não poderemos mais participar do Time Sife, e por isso, estou aqui divulgando que precisamos de mais alunos no time, interessados em crescer individualmente e em grupo. Qualquer área da faculdade é aceita, e quanto mais diversificado ficar, melhor. Venha participar despretensiosamente, apenas para conhecer o time, e quem sabe se gostar, se tornar um de nós.

Walcir Soares da Silva Junior

Presidente Time Sife Santa Cruz

Aluno do 8º Período de Ciências Econômicas


sife@santacruz.br

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Janela Econômica


Brasil-Rússia: comércio internacional e expectativas futuras no BRIC





Irene Starepravo, Priscila Saito e Walcir Soares Junior



As relações comerciais entre Brasil e Rússia se fortaleceram com o fim da URSS, com o Brasil sendo um dos primeiros países da América Latina a reconhecer a nova situação jurídico-política da Rússia em 1991, surgindo assim, interesses globais de comércio para ambos.


Nesse período, tanto a Rússia quanto o Brasil tiveram a abertura e modernização de suas economias e liberalização do comércio. O volume do comércio exterior foi de US$ 34,5 bilhões para a Rússia e de US$ 33,1 bilhões para o Brasil. Em 2008, o volume de exportação para a Rússia foi de US$ 4.652 bilhões, reduzindo em 2009 para 2.868 bilhões, uma queda bastante significativa na Balança Comercial.


Já a Rússia exportou para o Brasil em 2008 um volume de US$ 3.332 bilhões e US$ 1.412 bilhões em 2009. A maior parte do volume importado pela Rússia são produtos agropecuários brasileiros, carnes suínas, bovinas e aves, açúcares e confeitaria. A carne bovina teve uma redução na importação nos últimos anos por causa de possíveis casos de febre aftosa em alguns rebanhos no sul do Brasil, prejudicando esse comércio. Contudo, os acontecimentos recentes de boicote do frango americano contribuíram para a prospecção de novos aumentos na exportação de carne brasileira e tecnologia do sistema bancário exportada do Brasil.


As importações do Brasil concentram-se em matérias-primas para a fabricação de adubos e fertilizantes, alguns tipos de borracha, armas e munições entre outros. Nos primeiros meses do ano de 2010, a relação comercial entre estes países em comparação ao mesmo período do ano passado, teve uma melhora quanto ao volume de negociações, até porque os países integrantes do BRIC foram menos afetados com a última crise iniciada em 2007 nos EUA e conseguiram se recuperar mais rapidamente.


O percentual de participação dos dois ainda é insignificante. Dados de uma média da última década, as importações brasileiras representam em torno de 0,5% das exportações da Rússia, e as exportações brasileiras 1,5% das importações russas. Do total de exportações brasileiras, no máximo 1,5% foram destinadas à Rússia, e apenas 1% das importações totais foram russas. Um dos obstáculos encontrados neste sentido é o protecionismo russo – que vem diminuindo a partir das negociações da Rússia no ambito da OMC -, que obriga o Brasil a diversificar suas exportações. Assim a possibilidade de estímulo ao aumento das exportações de carne, café solúvel, e soja por exemplo, são enormes. Ainda existe a possibilidade de um aumento da pauta, com a inclusão de manufaturados tais como sucos concentrados, têxteis e calçados, e ainda produtos de alto conteúdo tecnológico como aeronaves civis.


Os obstáculos em relação às exportações são maiores que para outros países, pois vários são os problemas na cadeia de comercialização, como exemplo as commodities que ainda são transacionadas por intermediários internacionais, na maioria europeus, que além do domínio comercial e financeiro, tiram vantagem da desconfiança entre os empresários brasileiros e russos, em um mercado pouco conhecido.


O espaço para o crescimento das importações oriundas da Rússia, é a tecnologia complementar à brasileira, além de um interesse na realização de projetos em parceria visando setores da alta tecnologia como energia nuclear, e a indústria de aviação e espacial. Contudo, os obstáculos nas importações também se concentram nas desconfianças. Outra vez os motivos históricos se monstram salientes: a crença de que os empresários russos não possuem competências de gerenciamento, além do fato de que as mudanças sistêmicas na Rússia geram outras dificuldades, além da fragilidade dos bancos russos, que precisam buscar parcerias nos mercados emergentes para adquirir a confiança necessária.


Entretanto, nos dois lados das negociações, o enfrentamento destes obstáculos é iminente. Tanto o Brasil quanto a Rússia fazem parte do grupo de países emergentes que lutam contra o protecionismo dos países desenvolvidos – USA e Europa -, e possuem fortes interesses em ampliar suas negociações em novos mercados, além é claro, do comprometimento brasileiro em aumentar suas exportações para esses países.


Assim, as perspectivas comercias entre os dois países são muito otimistas, pois as situações conjunturais em que se encontram, estabelecem uma reciprocidade tamanha em relação ao comércio. Os mercados russos carecem de produtos do agronegócio e outras commodities brasileiras, além de demanda para os seus produtos, e o Brasil ter por objetivo ampliar suas exportações e investir em tecnologia, como a proposta da venda de aviões russos à Aeronáutica Brasileira, com inclusão da transferência de tecnologia.


É válido ressaltar que os interesses são comuns na ampliação desse mercado, tanto que em encontro recente, o presidente Lula, em sua quarta visita a Moscou, fez uma indicação da importância associada por ambas as nações ao desenvolvimento de novas relações que refletem o crescente poder econômico e político dos países do BRIC. Lula e Medvedev também assinaram um acordo de parceria estratégica que irá mapear a trajetória de desenvolvimento da relação entre os dois países, disse o Kremlin. O pacto faz um apelo para uma cooperação maior em energia - através da qual a Rússia está oferecendo tecnologia de energia nuclear e de liquefação de gás ao Brasil-- e em áreas de alta tecnologia como exploração espacial e construção de aviões, disseram autoridades de ambos os países. Tanto Lula quanto Medvedev dizem estar confiantes de que o comércio entre Brasil e Rússia poderia superar 10 bilhões de dólares ainda este ano.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Indicação de leitura: Revista Época Negócios Outubro 2009

Este mês a Revista Época Negócios traz uma reportagem de 18 páginas muito interessante.

Postei abaixo 2 partes que compõe essa matéria que fala sobre como fica a sua mente com a nova economia.

[Priscila $aito - Eco 6 SA]

Sua mente e a nova economia

Como psicólogos, estatísticos, neurocientistas (e até economistas!) trabalham para decifrar o cérebro de consumidores e investidores e reescrever a teoria econômica que há um ano levou o mundo à crise

Por Alexandre Teixeira e Edson Porto

Em laboratórios médicos assépticos, como o Centro de Ciências de Neuroimagem, em Londres, uma revolução econômica é tramada. Separados da ação por vidros grossos, neuroeconomistas observam a entrada de cobaias humanas em câmaras do tamanho de um automóvel e 32 toneladas de peso. Normalmente entra-se nessas máquinas para diagnosticar tumores não detectados por tomógrafos convencionais. Neste caso, voluntários são pagos para participar de jogos que simulam situações de consumo, aplicações financeiras ou poupança. Esse gigantesco equipamento – adquirido por um punhado de centros de pesquisa espalhados pelo mundo, ao custo de até US$ 4 milhões – produz o que os neurocientistas chamam de Imagem por Ressonância Magnética Funcional. O aparelho rastreia, com precisão milimétrica, o cérebro do voluntário, medindo a quantidade de sangue oxigenado nas diferentes áreas que o compõem e identificando quais delas “acendem”, destacando-se em vermelho fogo, quando tomamos decisões de compra ou investimento.


Pesquisadores de mercado já sabiam que, ao provar o mesmíssimo vinho apresentado em garrafas de R$ 20 e de R$ 100, consumidores dizem preferir o mais caro. Com auxílio da ressonância magnética, descobriu-se que um gole do vinho de R$ 100 efetivamente “acende” mais o córtex orbitofrontal (área do cérebro sensível a recompensa e punição) do que o de R$ 20. Do mesmo modo, usando a neurociência para entender a aversão ao risco, pesquisadores constataram que o medo de perder dinheiro é um processo químico no cérebro do investidor. Uma experiência conduzida na Alemanha replicou uma situação de tomada de decisão, pedindo a voluntários monitorados por tomógrafos que escolhessem entre fundos de investimento domésticos e estrangeiros. O teste revelou níveis de atividade significativamente mais altos nas áreas do cérebro identificadas com o medo de prejuízos quando os participantes analisavam fundos com ativos fora da Alemanha – mesmo que eles não fossem intrinsecamente mais arriscados.

A ressonância magnética é uma das ferramentas importantes da neuroeconomia, uma das ciências multidisciplinares que se apresentam como linhas auxiliares do esforço acadêmico e empresarial para resgatar a economia do beco sem saída em que se viu metida desde a eclosão da Crise de 2008. Há técnicas mais complexas (e assustadoras), como a Tomografia com Emissão de Pósitrons, que exige a injeção de soluções radioativas no cérebro para a realização de experiências, ou os estudos de pacientes com lesões cerebrais. A finalidade, no entanto, é a mesma. Entender, de verdade, como funciona o cérebro econômico de homens e mulheres de carne e osso – e livrá-los das abstrações grosseiras que os transformaram em máquinas obstinadamente racionais de tomar decisões. Economistas de boa-fé agora admitem que simplificaram demais as coisas e construíram teorias sobre os mercados tratando consumidores e investidores como caixas-pretas. Seus colegas nos laboratórios de neurociência se oferecem para abri-las.

Usando a neurociência para entender a aversão ao risco, pesquisadores
descobriram: o medo de perder dinheiro é um processo químico cerebral

“Pensar sobre como o cérebro implementa decisões econômicas, comparado a pensar sobre escolhas resultantes de preferências e crenças, é como trocar a TV em preto e branco por uma em cores”, compara Colin Camerer, um dos pioneiros da neuroeconomia. A imagem resultante não é bonita como a do homo economicus, ser mitológico que habita os livros-texto de economia e foi debochadamente descrito pelo economista comportamental Richard Thaler como capaz de “pensar como Albert Einstein, armazenar tanta memória quanto o Big Blue da IBM e ter a força de vontade de Mahatma Gandhi”. Na TV em cores da neuroeconomia, fica claro que o tal homem econômico não existe, é fruto da imaginação pouco fértil dos economistas ortodoxos. Com seu cérebro escaneado, homens e mulheres surgem emocionais, contraditórios, medrosos – em suma, humanos. É sobre essa gente de verdade que um grupo de pensadores originais se propõe a mergulhar.

Tido por muitos como o pai da economia comportamental, Thaler acredita que a crise que abalou as finanças globais terá impacto profundo na forma de pensar dos economistas. Aos 64 anos, ele diz que, ao longo de sua carreira, nunca havia visto seus colegas tão envolvidos com uma crise econômica contemporânea. “Economistas raramente falam de economia no almoço ou no café. Agora é tudo o que eles discutem”, disse a Época NEGÓCIOS, de sua casa, em Chicago. Para Thaler, a Crise de 2008 será “um ponto de inflexão para a teoria econômica, como foi a Grande Depressão na primeira metade do século passado”. Segundo ele, os economistas levaram muito tempo para entender o significado da Crise de 1929, mas ela alterou – e, em alguns casos, enterrou – teorias econômicas amplamente aceitas nas décadas anteriores. Thaler entende que o mesmo pode acontecer agora, embora acredite que esse será um processo longo e tortuoso. “Ainda estaremos estudando esta crise daqui a 30 anos.”

Se a sociedade culpa os banqueiros por tudo o que aconteceu de meados de 2007 para cá, há na academia quem aponte dedos acusadores para teóricos do pensamento econômico. “A profissão de economista deve ficar com muito da culpa pela crise. Se for para se tornar útil de novo, ela deve passar por uma revolução intelectual – tornando-se ao mesmo tempo mais ampla e humilde”, escreveu Anatole Kaletsky, comentarista econômico do Times, de Londres. No mundo todo, intelectuais que passaram os últimos anos de castigo, acusados de contrariar o senso comum, levantam a voz para condenar quem os condenou. “A crise fala por si. As anomalias foram grandes demais”, diz o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. “O mundo está aberto a novas ideias.”


NEUROIMAGEM_A ressonância magnética funcional permite rastrear com precisão os cérebros de voluntários e identificar as áreas que “acendem” quando tomamos decisões econômicas

ECONOMIA + PSICOLOGIA

O VELHO ADAM_O pensador Adam Smith (1723-1790): sua obra A Riqueza das Nações inaugura a economia moderna

Há quem entenda que a economia comportamental foi concebida por Gary Becker nos anos 70. De fato, foi ele quem incorporou definitivamente uma série de lampejos da psicologia à pesquisa econômica. “Mas sempre houve um casamento entre economia e psicologia”, afirma Roberta Muramatsu, professora de economia do Mackenzie e do Insper e estudiosa da neuroeconomia.

A separação entre as duas disciplinas se deu quando os economistas mais matemáticos roubaram a cena dos pensadores, digamos, humanistas. Foi uma decisão provocada pela falta de ferramentas para medir felicidade, satisfação e prazer. Cobrava-se jocosamente dos antecessores de Thaller e Kahneman a construção de um “hedonímetro” capaz de mensurar essas sensações. Sem isso, alegavam seus críticos, não seria possível dar respeitabilidade à economia como ciência. Ali, na virada do século 19 para o 20, entravam em cena os economistas chamados até hoje de neoclássicos.

Em economia, a ideia de que os seres humanos são entes racionais que sempre perseguem seu autointeresse pode ser traçada até os escritos pioneiros de Adam Smith, no século 18. Tornou-se célebre a frase do economista e filósofo, em seu livro A Riqueza das Nações: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos pelo nosso jantar, mas da consideração deles pelo interesse próprio”. A lenta evolução dessa ideia desaguaria na hipótese das expectativas racionais, formulada nos anos 70 por dois economistas da Universidade de Chicago, Robert Lucas e Thomas Sargent. Preconiza que a economia deve ser vista como um sistema mecânico, regido por leis definidas, imutáveis e universalmente entendidas. Na média, as expectativas de todos os agentes do mercado estariam sempre corretas, já que, supostamente, levam em conta toda a informação disponível.

Essa visão permitiu tornar a economia uma disciplina mais científica e gerou modelos matemáticos sofisticados para fazer previsões (em teoria precisas) sobre os preços futuros de ativos como ações, moedas, commodities e imóveis. Levada a extremos nas décadas seguintes, instalou-se nas finanças e deu origem à teoria dos mercados eficientes. Ela pressupõe um modelo bem definido de comportamento econômico seguido por todos os participantes do mercado. Mercado esse que, povoado por pessoas racionais e competitivas, seria sempre o instrumento mais eficiente para estabelecer o melhor valor dos ativos.

Em economia, a ideia de que os seres humanos são entes racionais que
sempre perseguem seu autointeresse pode ser traçada até Adam Smith

O economista Roman Frydman conta que, quando trocou a Polônia pelos Estados Unidos, no final dos anos 60, ficou surpreso ao conhecer as teses econômicas que estavam se consolidando nas universidades do país. “Os americanos achavam que era possível criar modelos matemáticos para explicar de maneira precisa o funcionamento dos mercados”, afirma. Curiosamente, segundo Frydman, essa visão mecanicista e a fé na capacidade de prever matematicamente o comportamento da economia tinham grande semelhança com as hipóteses predominantes nas economias socialistas. A diferença é que o mercado fora colocado no lugar do planejamento central. “Por causa da minha experiência na Polônia, eu sabia que não era possível prever como todos os agentes do mercado tomariam suas decisões, e que criar um modelo tão preciso era impossível. Em 1982, escrevi meu primeiro trabalho sobre o assunto e, desde então, me oponho a essa ideia, mas minha contestação foi amplamente ignorada.”

Vingado pela história, Roman Frydman é um dos raros economistas que, além de críticas, oferece uma teoria alternativa às teses econômicas dominantes. Ela foi batizada de Economia do Conhecimento Imperfeito e transformada num livro de mesmo nome, lançado em 2007. Sua visão contraria o que foi senso comum por 30 anos: os mercados são inerentemente imperfeitos, e as expectativas mudam constantemente, sendo impossível criar um modelo confiável para prever comportamentos e preços futuros. Atenção: Frydman diz que os mercados não são irracionais. O ponto é que as grandes flutuações são parte integrante de como eles funcionam, sendo impossível eliminá-las ou prevê-las com precisão. O máximo que se pode fazer, usando a Economia do Conhecimento Imperfeito, é identificar quando um preço está se comportando fora do padrão histórico e usar essa informação para buscar indicações do que deve acontecer.

Por um Novo Humanismo na Economia

Parece ser consenso que a humanidade vive uma crise civilizatória. A fome que atinge 1 bilhão de seres humanos talvez seja a prova incontestável que as coisas não andam bem em matéria de dignidade e respeito ao próximo, termos esses caros a sociedades que se encontram “desconectadas” das boas e adequadas políticas públicas sociais. Até mesmo porque, nesse sentido, uma polêmica ronda essa discussão. Dizem, alguns, que temos que produzir mais porque somos muitos. Será isso verdade? Não seria melhor mudarmos o foco: produzirmos melhor (com qualidade), e não mais (diminuir a quantidade). Temos que “distribuir” e não “concentrar”.

No que toca a ignomínia da fome, temos que evitar o desperdício que beira cifras indecentes de 30% a 40% da produção de grãos e distribuir melhor os alimentos cuja produção atual é suficiente.

A produção de alimentos é suficiente

A produção mundial de alimentos dos dias de hoje dá conta suficiente das 6,7 bilhões de bocas a serem alimentadas. De acordo com a FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação – ONU), entre 1950 e 2000, a produção mundial de grãos mais que triplicou, passando de cerca de 590 para mais de 2 trilhões de toneladas métricas ao ano. De 1950 a 1975, a produção de grãos aumentou em média 3,3% ao ano, um percentual maior do que o do crescimento populacional, de 1,9% ao ano.

No entanto, o “probleminha” da alocação/distribuição dessa produção nos lugares que mais carece de ajuda continua a não acontecer. E, assim, os que tanto precisam acabam ficando sem acesso. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais. Além disso, deve-se computar ainda o efeito de pragas sobre a plantação e o apodrecimento entre a colheita e o consumo. O que falta para uns, sobra para outros. É a distribuição que não é feita a contento.

Desse modo, temos que de um lado há um 1 bilhão de famintos; do outro, 1 bilhão de obesos.
E assim, outros e outros “probleminhas” que giram em torno da má distribuição de recursos e rendas vão se agravando, contribuindo, sobremaneira, para desumanizar ainda mais as relações entre nossos pares.
Em especial sobre a questão dos subnutridos, cabe ressaltar que esse mal acomete uma entre três crianças. Em números absolutos, a subnutrição e a fome crônica afetam aproximadamente 200 milhões de pessoas na Índia; mais de 200 milhões na África; 40 milhões em Bangladesh; 15 milhões no Afeganistão. O número de mortes por causas relacionadas com a fome é da ordem de nove milhões por ano. Isso resulta em uma média de 25 mil mortes por dia.

Percebe-se, com isso, que os números que perfazem a desigualdade são gritantes e inadmissíveis.
A conta disso é bastante simples: tem pouca gente ganhando muito, enquanto há muita gente que nada está ganhando. A riqueza de uns está sendo literalmente construída sobre a pobreza de milhões de pessoas.
O consumo excessivo de uns é a contrapartida da escassez de outros. Para uns sobra o que tanto falta a outros tantos. É o “desequilíbrio” que parece assim regular as atividades da economia gerando, na ponta final, mais desigualdade.

A falta de equilíbrio

Se as relações econômicas fossem, ao menos, próximas do equilíbrio, bastaria dividir a produção mundial (60 trilhões de dólares) por 6,7 bilhões de pessoas e obteríamos algo como 9 mil dólares por pessoa.
Mas, sabemos que não é bem assim que a coisa funciona. E sabemos também que a desigualdade não é natural, é imposta. E, sendo imposta, alguém está no “centro” dessas decisões dirigindo o destino de muitos que vão sendo condenados à miséria e a exploração. É a desumanização da economia que provoca a desumanização de nossos pares.

E a exploração está por todos os lados, incluindo até mesmo os que estão fora desse “deus-mercado” que é abençoado pelo “consumo excessivo”, regulado pela lógica mercadológica que defende que mais e mais produtos devam ser “empurrados” para um número cada vez mais crescente de compradores. É a lógica perversa do consumo excessivo que prioriza apenas o consumidor detentor de poder aquisitivo.

Nesse pormenor, o velho e bom Marx chegou a afirmar que “é melhor ser explorado pelo capitalismo do que não ser explorado por ele”. Marx sentenciava que ao não ser explorado pelo capitalismo, o trabalhador visivelmente não “existia”, pois se encontrava fora do mercado de trabalho (no desemprego) na condição de nem mesmo ser “explorado pelo sistema” (excluído).

Percebemos então que a exclusão social é de tamanha ferocidade que atinge até mesmo quem dela não contribui nem para o lucro do capitalista, nem para aumentar o número de produtos disponíveis no mercado. Em nossa opinião, esse é o “excluído dentro da exclusão” que contribui, assim, grosso modo, para a total desumanização das atividades.

Cabe reiterar que os números dessa “desumanização” são alarmantes. Do lado dos óbitos são: 10 milhões de crianças mortas a cada ano por problemas com “insegurança alimentar”; 25 milhões de vítimas do HIV/AIDS até os dias de hoje; 1 bilhão e meio de pessoas sem acesso à água potável; 3 milhões de mortes ao ano na África em decorrência da malária; meio milhão de mulheres que morrem no parto por deficiências no sistema de saúde. Acrescenta-se a isso o aquecimento global que provoca o desequilíbrio do ecossistema a ponto de chegarmos a seguinte conclusão: não é o planeta Terra que está prestes a entrar em decomposição, somos nós. Não são os animais que entrarão em extinção, somos nós. Não é o habitat natural que soçobrará, somos nós.

O rumo que a economia tomou nos últimos quatrocentos anos apenas reforça essa idéia. No início, com os clássicos ministrando as primeiras lições, no centro da análise econômica estava o indivíduo. Era a ação humana – palavra cara a Escola Austríaca de Economia - o fator responsável pelos avanços.

Com o passar dos tempos e com a chegada dos marginalistas na cena econômica, a análise matemática ganhou relevância e as necessidades humanas deixaram de ser o ponto fundamental de preocupação.
O que fizeram então esses analistas econômicos da Escola Marginalista? Jogaram para escanteio o cabedal sócio-econômico que mirava as necessidades humanas e estabelecia o bem-estar como meta. Desde então, a economia se “matematizou” e, aos poucos, o social se tornou apêndice da matemática econômica.

Disso surge uma pergunta inevitável: o que tem que ser feito para resgatar o foco social e humano que um dia caracterizou a abordagem das ciências econômicas?

O resgate necessário

Precisamos praticar a Economia Solidária, a Economia Sustentável, a Humanização da Economia na qual o dinheiro não seja o ponto central. É simples? Não. Porém, não é impossível.

Para tanto, “É preciso reinventar uma economia da convivência”, diz Edgar Morin. Dom Pedro Casaldáliga, nessa mesma linha, fala em “humanizar a humanidade”; enquanto o educador Marcos Arruda escreve sobre tornar “real o possível”.

Mas, o que é “real” e o que significa, de fato, o “possível”? Real é desejarmos um mundo melhor para todos, sem exceção, nem discriminação. Possível é praticarmos isso mediante a cooperação e a solidariedade. No lugar da competição coloquemos a cooperação. Em lugar do individualismo, solicitemos a coletivismo, a ajuda mútua, a socialização dos benefícios.

A canção popular entoada em cantos religiosos profetiza que “Deus criou o infinito para a vida ser mais”. Viver é isso. Viver é conviver. Não nascemos sozinhos, não estamos isolados, não habitamos ilhas em isolacionismo perpétuo. Vivemos em comunidade. Em comum unidade. Logo, vivenciamos o coletivo, não o individualismo.

No entanto, só vale a pena viver em um mundo onde esse mundo mereça ser vivido. Do jeito que está, com as desigualdades sociais e econômicas esparramando miséria e indecência por todos os lados, até mesmo sonhar a possibilidade de construir uma vida igualitária e digna torna-se algo espinhoso. Parte daí a necessidade de humanizar a economia, visto que a economia “estuda” o comportamento dos agentes econômicos. Assim, por essa casual definição, a economia estuda o “nosso” comportamento, porque somos, antes de qualquer outra coisa, agentes dessa transformação que se faz necessária.

É nesse sentido que desejamos promover o resgate do verdadeiro fundamento da ciência econômica e torná-la útil em nosso favor, usando a Economia como instrumento da construção do bem comum. Nesse pormenor, cabe ao economista entender o mundo e propor alternativas.

Ladislau Dowbor nos diz que “a economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais positivas, a evitar os impasses mais perigosos”.

Em nosso entendimento, a economia só faz sentido de ser e torna-se útil se, e somente se, agrupar em seu intento crescimento econômico (equilibrado), equilíbrio ecológico (meio ambiente sustentável) e progresso social (justiça e equidade). Fora disso, a Economia encontra-se totalmente desconectada da realidade.

Marcus Eduardo de Oliveira
Economista, mestre pela USP e professor universitário. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O nosso maior pensador vivo

Uma entrevista muito interessante, com um dos maiores nomes da ciência brasileira.

Link original: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=925881&tit=O-nosso-maior-pensador-vivo

Publicado em 20/09/2009 | Breno Baldrati

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Entrevista com Newton Carneiro Affonso da Costa, matemático e filósofo

Pouca gente sabe, mas Curitiba pariu um dos intelectuais brasileiros mais reconhecidos mundialmente. Newton Carneiro Affonso da Costa, hoje com 80 anos, morador de Florianópolis, revolucionou o campo da lógica ao desenvolver a Teoria Paraconsistente, segundo a qual uma sentença e sua negação podem ser ambas verdadeiras (leia mais ao lado).

Nascido na capital paranaense às vésperas da maior crise econômica de todos os tempos, em 1929, Newton formou-se na Universi­dade Federal do Paraná em Enge­nharia e Filosofia. Tornou-se catedrático de Matemática e mais tarde transferiu-se para São Paulo, onde lecionou na Unicamp e na USP. Nesta entrevista, ele fala sobre suas teorias, o ambiente intelectual brasileiro, religião e felicidade.

Como foi a sua formação?

Fui muito influenciado por um tio, Milton Carneiro, também professor da UFPR, que discutia muito filosofia e lia muitos livros comigo. Por outro lado, na minha família, todos se interessavam por política, assuntos atuais, e eu fui tomando conhecimento dessas áreas, inclusive autodidaticamente, e acabei me interessando enormemente pela ciência. Minha mãe achava que, sempre que possível, a gente não devia falar na primeira pessoa. Mas tratar de idéias, de coisas ge­­rais. Por exemplo, discutir política, aspectos filosóficos da vida, e não se preocupar tanto com os acidentes terrenos nossos.

Por que deixou Curitiba?

Não tenho queixa nenhuma da UFPR. Mas a universidade na época não me oferecia as coisas que eu queria. Era difícil trazer professores para a universidade ou obter bolsas para o exterior. A biblioteca era meio limitada e não havia verbas para pesquisas. Então achei mais interessante ir para a USP ou a Unicamp, onde havia condições mais interessantes para trabalhos científicos.

O que acha do ambiente intelectual brasileiro?

Está melhorando, mas ainda está muito atrasado. A USP e Unicamp, na classificação geral das universidades, estão bem longe da primeira, que no momento é Harvard.

Para melhorar, o que é mais ur­­gente?

Para começar, uma reforma completa no ensino secundário. O ensino secundário no Brasil é lamentável. Não há boa universidade sem base. Não é possível. Sem uma formação boa, de amor à ciência, de interesses outros além de futebol, não vão para frente a tecnologia e a ciência brasileira. É claro que na base de tudo isso está a família. O interesse fundamental por certos valores do espírito, na minha opinião, tem que nascer.

O senhor acha que é devidamente reconhecido pela academia brasileira?

De um modo geral, no Brasil, a pessoa que produz em ciência e filosofia é pouco conhecida. Seria desejável que as coisas mudassem. Pou­­co conhecido não só do “povão”, isso é razoável, mas também não se conhece os nossos colegas estão fazendo. Ninguém sabe o que está sendo feito em outras áreas. Quase tudo que é feito de bom é publicado em inglês. Publicar em português, em áreas como matemática, física, química, é perda de tempo. Ninguém lê. Cientificamente, português é uma língua praticamente morta. Nem os espanhóis entendem direito português.

Como o senhor explica a lógica paraconsistente?

A lógica paraconsistente, para ser explicada de uma maneira simples e fácil, é muito difícil. Mas dá para dar uma idéia geral. A lógica padrão, que normalmente se utiliza, não consegue dar conta, de uma maneira sensata, quando há informações contraditórias. Então você precisa de uma lógica especial. Vou dar um exemplo típico do que ocorre. Um sistema especialista, por exemplo, em medicina, é um sistema computacional que recebe milhares de informações de médicos. Os especialistas são en­­trevistados pelo que a gente chama de engenheiros do conhecimento. Depois essas informações são jogadas no computador, no sistema es­­pecialista. É óbvio que essas vá­­rias afirmações e suposições dos vários médicos divergem entre si. Um médico quer aplicar num tratamento cardíaco uma determinada técnica. Outro quer outra. No com­­putador, se a gente não usar uma lógica adequada, o sistema co­­­­lapsa. Uma das alternativas é a ló­­gica paraconsistente. Por outro lado, ela tem também um grande valor filosófico. Ela foi aplicada a diversas áreas, como economia, filosofia e computação

E a Teoria da Quase-verdade, tam­­­­­­bém desenvolvida pelo se­­nhor?

Foi outro caminho que eu procurei abrir. Na física, por exemplo, sistematicamente o físico lança mão de teorias que são incompatíveis en­­tre si. Na base das grandes teorias físicas, por diversas razões, em vez de falar de teorias verdadeiras, prefiro falar de teorias quase-verdadeiras.

O senhor diz que verdade é restrita a certas circunstâncias.

Em parte é. Quando você vai fazer relatividade geral, você deixa de la­­do forças elétricas, magnéticas, uma série de coisas. Você supõe uma série de restrições, e trata de um caso de certa forma idealizado. Isso é exatamente o que se faz na quase-verdade. É a formulação ri-­­ gorosa do que os filósofos chamam de “salvar as aparências”.

Uma das críticas que o senhor combate sobre a lógica paraconsistente é que ela tenta destruir a lógica clássica...

A lógica paraconsistente não destrói a lógica clássica, ela amplia. To­­do mundo diz que a relatividade destruiu a mecânica newtoniana. Isso é falso. Sem mecânica newtoniana não haveria relatividade. Sem dúvida, em sua área, a lógica paraconsistente é uma mudança de paradigma. Até ela ser desenvol­­vida, ninguém aceitava, e ainda muitos não aceitam, que pudesse existir uma lógica diferente da ló­­gica clássica. Só existia a lógica clássica. Foi uma mudança radical.

Que teoria o senhor gostaria de estar vivo para ver comprovada?

Uma das coisas que eu no momento mais gostaria é que a Teoria das Cordas, em física, funcionasse. Que de fato se chegasse à conclusão de que ela é realmente o que se quer dela: uma unificação completa da física. Seria um dos grandes saltos paradigmáticos da física e da ciência em geral. E indiretamente da própria lógica.

Como cientista, o senhor acredita em alguma coisa que não possa ser comprovada?

Sem dúvida, mas isso não é ciência. Seria uma coisa meta-científica. Muita gente acredita em Deus, mas, por enquanto, isso é inacessível à ciência. Eu não tenho nada contra quem acredita num Deus de barba e etc, como aparece na Bí­­blia. Eu não tenho nenhuma religião formal, mas no fundo penso mais ou menos como Einstein pensava. Existe uma força, existe algo, que seria muito difícil de descrever em palavras, é mais uma coisa de intuição. Há uma certa ordem, uma certa força na natureza, mas não personificada, como usualmente vemos. Isso não.

Como é sua visão política?

Está tão ruim a política no Brasil, que eu me afastei completamente. Era um tema que me interessava quando jovem. Mas vendo essas bar­­baridades de hoje, eu fico pasmo, paralisado. Não sei o que fazer. Até porque já tenho uma certa idade.

O que o senhor recomenda para quem tem interesse em filosofia?

Os problemas da filosofia, de Bertrand Russell. E também entrar num bom curso de filosofia. Sem um curso, sem a necessidade de discutir com colegas de nível, não se pode fazer nada.

A felicidade plena é possível?

Acho meio difícil. Uma das coisas que sempre me influenciou foi uma frase de David Copperfield, herói de Charles Dickens. Ele diz: “Serei eu herói da minha própria vida?” Eu digo o seguinte: a maioria das pessoas é náufraga na própria vida. E, sendo náufraga, é difícil ser feliz.

Como deixar de ser náufrago?

É muito difícil. Na verdade, você nas­­ce e morre sem saber por quê. Se a pessoa acreditar na religião, ela pode superar esses problemas. Mas, se quiser ter uma atitude racional, é o náufrago, não tem solução. Por isso, ser ignorante ou meio burróide é formidável. A felicidade está em se sentir bem. Eu quando estou trabalhando com as minhas coisas, minhas pesquisas, me sinto bem, e aí ei sinto feliz. A família e a vida amorosa também são importantes.