quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Indicação de leitura: Revista Época Negócios Outubro 2009

Este mês a Revista Época Negócios traz uma reportagem de 18 páginas muito interessante.

Postei abaixo 2 partes que compõe essa matéria que fala sobre como fica a sua mente com a nova economia.

[Priscila $aito - Eco 6 SA]

Sua mente e a nova economia

Como psicólogos, estatísticos, neurocientistas (e até economistas!) trabalham para decifrar o cérebro de consumidores e investidores e reescrever a teoria econômica que há um ano levou o mundo à crise

Por Alexandre Teixeira e Edson Porto

Em laboratórios médicos assépticos, como o Centro de Ciências de Neuroimagem, em Londres, uma revolução econômica é tramada. Separados da ação por vidros grossos, neuroeconomistas observam a entrada de cobaias humanas em câmaras do tamanho de um automóvel e 32 toneladas de peso. Normalmente entra-se nessas máquinas para diagnosticar tumores não detectados por tomógrafos convencionais. Neste caso, voluntários são pagos para participar de jogos que simulam situações de consumo, aplicações financeiras ou poupança. Esse gigantesco equipamento – adquirido por um punhado de centros de pesquisa espalhados pelo mundo, ao custo de até US$ 4 milhões – produz o que os neurocientistas chamam de Imagem por Ressonância Magnética Funcional. O aparelho rastreia, com precisão milimétrica, o cérebro do voluntário, medindo a quantidade de sangue oxigenado nas diferentes áreas que o compõem e identificando quais delas “acendem”, destacando-se em vermelho fogo, quando tomamos decisões de compra ou investimento.


Pesquisadores de mercado já sabiam que, ao provar o mesmíssimo vinho apresentado em garrafas de R$ 20 e de R$ 100, consumidores dizem preferir o mais caro. Com auxílio da ressonância magnética, descobriu-se que um gole do vinho de R$ 100 efetivamente “acende” mais o córtex orbitofrontal (área do cérebro sensível a recompensa e punição) do que o de R$ 20. Do mesmo modo, usando a neurociência para entender a aversão ao risco, pesquisadores constataram que o medo de perder dinheiro é um processo químico no cérebro do investidor. Uma experiência conduzida na Alemanha replicou uma situação de tomada de decisão, pedindo a voluntários monitorados por tomógrafos que escolhessem entre fundos de investimento domésticos e estrangeiros. O teste revelou níveis de atividade significativamente mais altos nas áreas do cérebro identificadas com o medo de prejuízos quando os participantes analisavam fundos com ativos fora da Alemanha – mesmo que eles não fossem intrinsecamente mais arriscados.

A ressonância magnética é uma das ferramentas importantes da neuroeconomia, uma das ciências multidisciplinares que se apresentam como linhas auxiliares do esforço acadêmico e empresarial para resgatar a economia do beco sem saída em que se viu metida desde a eclosão da Crise de 2008. Há técnicas mais complexas (e assustadoras), como a Tomografia com Emissão de Pósitrons, que exige a injeção de soluções radioativas no cérebro para a realização de experiências, ou os estudos de pacientes com lesões cerebrais. A finalidade, no entanto, é a mesma. Entender, de verdade, como funciona o cérebro econômico de homens e mulheres de carne e osso – e livrá-los das abstrações grosseiras que os transformaram em máquinas obstinadamente racionais de tomar decisões. Economistas de boa-fé agora admitem que simplificaram demais as coisas e construíram teorias sobre os mercados tratando consumidores e investidores como caixas-pretas. Seus colegas nos laboratórios de neurociência se oferecem para abri-las.

Usando a neurociência para entender a aversão ao risco, pesquisadores
descobriram: o medo de perder dinheiro é um processo químico cerebral

“Pensar sobre como o cérebro implementa decisões econômicas, comparado a pensar sobre escolhas resultantes de preferências e crenças, é como trocar a TV em preto e branco por uma em cores”, compara Colin Camerer, um dos pioneiros da neuroeconomia. A imagem resultante não é bonita como a do homo economicus, ser mitológico que habita os livros-texto de economia e foi debochadamente descrito pelo economista comportamental Richard Thaler como capaz de “pensar como Albert Einstein, armazenar tanta memória quanto o Big Blue da IBM e ter a força de vontade de Mahatma Gandhi”. Na TV em cores da neuroeconomia, fica claro que o tal homem econômico não existe, é fruto da imaginação pouco fértil dos economistas ortodoxos. Com seu cérebro escaneado, homens e mulheres surgem emocionais, contraditórios, medrosos – em suma, humanos. É sobre essa gente de verdade que um grupo de pensadores originais se propõe a mergulhar.

Tido por muitos como o pai da economia comportamental, Thaler acredita que a crise que abalou as finanças globais terá impacto profundo na forma de pensar dos economistas. Aos 64 anos, ele diz que, ao longo de sua carreira, nunca havia visto seus colegas tão envolvidos com uma crise econômica contemporânea. “Economistas raramente falam de economia no almoço ou no café. Agora é tudo o que eles discutem”, disse a Época NEGÓCIOS, de sua casa, em Chicago. Para Thaler, a Crise de 2008 será “um ponto de inflexão para a teoria econômica, como foi a Grande Depressão na primeira metade do século passado”. Segundo ele, os economistas levaram muito tempo para entender o significado da Crise de 1929, mas ela alterou – e, em alguns casos, enterrou – teorias econômicas amplamente aceitas nas décadas anteriores. Thaler entende que o mesmo pode acontecer agora, embora acredite que esse será um processo longo e tortuoso. “Ainda estaremos estudando esta crise daqui a 30 anos.”

Se a sociedade culpa os banqueiros por tudo o que aconteceu de meados de 2007 para cá, há na academia quem aponte dedos acusadores para teóricos do pensamento econômico. “A profissão de economista deve ficar com muito da culpa pela crise. Se for para se tornar útil de novo, ela deve passar por uma revolução intelectual – tornando-se ao mesmo tempo mais ampla e humilde”, escreveu Anatole Kaletsky, comentarista econômico do Times, de Londres. No mundo todo, intelectuais que passaram os últimos anos de castigo, acusados de contrariar o senso comum, levantam a voz para condenar quem os condenou. “A crise fala por si. As anomalias foram grandes demais”, diz o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. “O mundo está aberto a novas ideias.”


NEUROIMAGEM_A ressonância magnética funcional permite rastrear com precisão os cérebros de voluntários e identificar as áreas que “acendem” quando tomamos decisões econômicas

ECONOMIA + PSICOLOGIA

O VELHO ADAM_O pensador Adam Smith (1723-1790): sua obra A Riqueza das Nações inaugura a economia moderna

Há quem entenda que a economia comportamental foi concebida por Gary Becker nos anos 70. De fato, foi ele quem incorporou definitivamente uma série de lampejos da psicologia à pesquisa econômica. “Mas sempre houve um casamento entre economia e psicologia”, afirma Roberta Muramatsu, professora de economia do Mackenzie e do Insper e estudiosa da neuroeconomia.

A separação entre as duas disciplinas se deu quando os economistas mais matemáticos roubaram a cena dos pensadores, digamos, humanistas. Foi uma decisão provocada pela falta de ferramentas para medir felicidade, satisfação e prazer. Cobrava-se jocosamente dos antecessores de Thaller e Kahneman a construção de um “hedonímetro” capaz de mensurar essas sensações. Sem isso, alegavam seus críticos, não seria possível dar respeitabilidade à economia como ciência. Ali, na virada do século 19 para o 20, entravam em cena os economistas chamados até hoje de neoclássicos.

Em economia, a ideia de que os seres humanos são entes racionais que sempre perseguem seu autointeresse pode ser traçada até os escritos pioneiros de Adam Smith, no século 18. Tornou-se célebre a frase do economista e filósofo, em seu livro A Riqueza das Nações: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos pelo nosso jantar, mas da consideração deles pelo interesse próprio”. A lenta evolução dessa ideia desaguaria na hipótese das expectativas racionais, formulada nos anos 70 por dois economistas da Universidade de Chicago, Robert Lucas e Thomas Sargent. Preconiza que a economia deve ser vista como um sistema mecânico, regido por leis definidas, imutáveis e universalmente entendidas. Na média, as expectativas de todos os agentes do mercado estariam sempre corretas, já que, supostamente, levam em conta toda a informação disponível.

Essa visão permitiu tornar a economia uma disciplina mais científica e gerou modelos matemáticos sofisticados para fazer previsões (em teoria precisas) sobre os preços futuros de ativos como ações, moedas, commodities e imóveis. Levada a extremos nas décadas seguintes, instalou-se nas finanças e deu origem à teoria dos mercados eficientes. Ela pressupõe um modelo bem definido de comportamento econômico seguido por todos os participantes do mercado. Mercado esse que, povoado por pessoas racionais e competitivas, seria sempre o instrumento mais eficiente para estabelecer o melhor valor dos ativos.

Em economia, a ideia de que os seres humanos são entes racionais que
sempre perseguem seu autointeresse pode ser traçada até Adam Smith

O economista Roman Frydman conta que, quando trocou a Polônia pelos Estados Unidos, no final dos anos 60, ficou surpreso ao conhecer as teses econômicas que estavam se consolidando nas universidades do país. “Os americanos achavam que era possível criar modelos matemáticos para explicar de maneira precisa o funcionamento dos mercados”, afirma. Curiosamente, segundo Frydman, essa visão mecanicista e a fé na capacidade de prever matematicamente o comportamento da economia tinham grande semelhança com as hipóteses predominantes nas economias socialistas. A diferença é que o mercado fora colocado no lugar do planejamento central. “Por causa da minha experiência na Polônia, eu sabia que não era possível prever como todos os agentes do mercado tomariam suas decisões, e que criar um modelo tão preciso era impossível. Em 1982, escrevi meu primeiro trabalho sobre o assunto e, desde então, me oponho a essa ideia, mas minha contestação foi amplamente ignorada.”

Vingado pela história, Roman Frydman é um dos raros economistas que, além de críticas, oferece uma teoria alternativa às teses econômicas dominantes. Ela foi batizada de Economia do Conhecimento Imperfeito e transformada num livro de mesmo nome, lançado em 2007. Sua visão contraria o que foi senso comum por 30 anos: os mercados são inerentemente imperfeitos, e as expectativas mudam constantemente, sendo impossível criar um modelo confiável para prever comportamentos e preços futuros. Atenção: Frydman diz que os mercados não são irracionais. O ponto é que as grandes flutuações são parte integrante de como eles funcionam, sendo impossível eliminá-las ou prevê-las com precisão. O máximo que se pode fazer, usando a Economia do Conhecimento Imperfeito, é identificar quando um preço está se comportando fora do padrão histórico e usar essa informação para buscar indicações do que deve acontecer.

Por um Novo Humanismo na Economia

Parece ser consenso que a humanidade vive uma crise civilizatória. A fome que atinge 1 bilhão de seres humanos talvez seja a prova incontestável que as coisas não andam bem em matéria de dignidade e respeito ao próximo, termos esses caros a sociedades que se encontram “desconectadas” das boas e adequadas políticas públicas sociais. Até mesmo porque, nesse sentido, uma polêmica ronda essa discussão. Dizem, alguns, que temos que produzir mais porque somos muitos. Será isso verdade? Não seria melhor mudarmos o foco: produzirmos melhor (com qualidade), e não mais (diminuir a quantidade). Temos que “distribuir” e não “concentrar”.

No que toca a ignomínia da fome, temos que evitar o desperdício que beira cifras indecentes de 30% a 40% da produção de grãos e distribuir melhor os alimentos cuja produção atual é suficiente.

A produção de alimentos é suficiente

A produção mundial de alimentos dos dias de hoje dá conta suficiente das 6,7 bilhões de bocas a serem alimentadas. De acordo com a FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação – ONU), entre 1950 e 2000, a produção mundial de grãos mais que triplicou, passando de cerca de 590 para mais de 2 trilhões de toneladas métricas ao ano. De 1950 a 1975, a produção de grãos aumentou em média 3,3% ao ano, um percentual maior do que o do crescimento populacional, de 1,9% ao ano.

No entanto, o “probleminha” da alocação/distribuição dessa produção nos lugares que mais carece de ajuda continua a não acontecer. E, assim, os que tanto precisam acabam ficando sem acesso. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais. Além disso, deve-se computar ainda o efeito de pragas sobre a plantação e o apodrecimento entre a colheita e o consumo. O que falta para uns, sobra para outros. É a distribuição que não é feita a contento.

Desse modo, temos que de um lado há um 1 bilhão de famintos; do outro, 1 bilhão de obesos.
E assim, outros e outros “probleminhas” que giram em torno da má distribuição de recursos e rendas vão se agravando, contribuindo, sobremaneira, para desumanizar ainda mais as relações entre nossos pares.
Em especial sobre a questão dos subnutridos, cabe ressaltar que esse mal acomete uma entre três crianças. Em números absolutos, a subnutrição e a fome crônica afetam aproximadamente 200 milhões de pessoas na Índia; mais de 200 milhões na África; 40 milhões em Bangladesh; 15 milhões no Afeganistão. O número de mortes por causas relacionadas com a fome é da ordem de nove milhões por ano. Isso resulta em uma média de 25 mil mortes por dia.

Percebe-se, com isso, que os números que perfazem a desigualdade são gritantes e inadmissíveis.
A conta disso é bastante simples: tem pouca gente ganhando muito, enquanto há muita gente que nada está ganhando. A riqueza de uns está sendo literalmente construída sobre a pobreza de milhões de pessoas.
O consumo excessivo de uns é a contrapartida da escassez de outros. Para uns sobra o que tanto falta a outros tantos. É o “desequilíbrio” que parece assim regular as atividades da economia gerando, na ponta final, mais desigualdade.

A falta de equilíbrio

Se as relações econômicas fossem, ao menos, próximas do equilíbrio, bastaria dividir a produção mundial (60 trilhões de dólares) por 6,7 bilhões de pessoas e obteríamos algo como 9 mil dólares por pessoa.
Mas, sabemos que não é bem assim que a coisa funciona. E sabemos também que a desigualdade não é natural, é imposta. E, sendo imposta, alguém está no “centro” dessas decisões dirigindo o destino de muitos que vão sendo condenados à miséria e a exploração. É a desumanização da economia que provoca a desumanização de nossos pares.

E a exploração está por todos os lados, incluindo até mesmo os que estão fora desse “deus-mercado” que é abençoado pelo “consumo excessivo”, regulado pela lógica mercadológica que defende que mais e mais produtos devam ser “empurrados” para um número cada vez mais crescente de compradores. É a lógica perversa do consumo excessivo que prioriza apenas o consumidor detentor de poder aquisitivo.

Nesse pormenor, o velho e bom Marx chegou a afirmar que “é melhor ser explorado pelo capitalismo do que não ser explorado por ele”. Marx sentenciava que ao não ser explorado pelo capitalismo, o trabalhador visivelmente não “existia”, pois se encontrava fora do mercado de trabalho (no desemprego) na condição de nem mesmo ser “explorado pelo sistema” (excluído).

Percebemos então que a exclusão social é de tamanha ferocidade que atinge até mesmo quem dela não contribui nem para o lucro do capitalista, nem para aumentar o número de produtos disponíveis no mercado. Em nossa opinião, esse é o “excluído dentro da exclusão” que contribui, assim, grosso modo, para a total desumanização das atividades.

Cabe reiterar que os números dessa “desumanização” são alarmantes. Do lado dos óbitos são: 10 milhões de crianças mortas a cada ano por problemas com “insegurança alimentar”; 25 milhões de vítimas do HIV/AIDS até os dias de hoje; 1 bilhão e meio de pessoas sem acesso à água potável; 3 milhões de mortes ao ano na África em decorrência da malária; meio milhão de mulheres que morrem no parto por deficiências no sistema de saúde. Acrescenta-se a isso o aquecimento global que provoca o desequilíbrio do ecossistema a ponto de chegarmos a seguinte conclusão: não é o planeta Terra que está prestes a entrar em decomposição, somos nós. Não são os animais que entrarão em extinção, somos nós. Não é o habitat natural que soçobrará, somos nós.

O rumo que a economia tomou nos últimos quatrocentos anos apenas reforça essa idéia. No início, com os clássicos ministrando as primeiras lições, no centro da análise econômica estava o indivíduo. Era a ação humana – palavra cara a Escola Austríaca de Economia - o fator responsável pelos avanços.

Com o passar dos tempos e com a chegada dos marginalistas na cena econômica, a análise matemática ganhou relevância e as necessidades humanas deixaram de ser o ponto fundamental de preocupação.
O que fizeram então esses analistas econômicos da Escola Marginalista? Jogaram para escanteio o cabedal sócio-econômico que mirava as necessidades humanas e estabelecia o bem-estar como meta. Desde então, a economia se “matematizou” e, aos poucos, o social se tornou apêndice da matemática econômica.

Disso surge uma pergunta inevitável: o que tem que ser feito para resgatar o foco social e humano que um dia caracterizou a abordagem das ciências econômicas?

O resgate necessário

Precisamos praticar a Economia Solidária, a Economia Sustentável, a Humanização da Economia na qual o dinheiro não seja o ponto central. É simples? Não. Porém, não é impossível.

Para tanto, “É preciso reinventar uma economia da convivência”, diz Edgar Morin. Dom Pedro Casaldáliga, nessa mesma linha, fala em “humanizar a humanidade”; enquanto o educador Marcos Arruda escreve sobre tornar “real o possível”.

Mas, o que é “real” e o que significa, de fato, o “possível”? Real é desejarmos um mundo melhor para todos, sem exceção, nem discriminação. Possível é praticarmos isso mediante a cooperação e a solidariedade. No lugar da competição coloquemos a cooperação. Em lugar do individualismo, solicitemos a coletivismo, a ajuda mútua, a socialização dos benefícios.

A canção popular entoada em cantos religiosos profetiza que “Deus criou o infinito para a vida ser mais”. Viver é isso. Viver é conviver. Não nascemos sozinhos, não estamos isolados, não habitamos ilhas em isolacionismo perpétuo. Vivemos em comunidade. Em comum unidade. Logo, vivenciamos o coletivo, não o individualismo.

No entanto, só vale a pena viver em um mundo onde esse mundo mereça ser vivido. Do jeito que está, com as desigualdades sociais e econômicas esparramando miséria e indecência por todos os lados, até mesmo sonhar a possibilidade de construir uma vida igualitária e digna torna-se algo espinhoso. Parte daí a necessidade de humanizar a economia, visto que a economia “estuda” o comportamento dos agentes econômicos. Assim, por essa casual definição, a economia estuda o “nosso” comportamento, porque somos, antes de qualquer outra coisa, agentes dessa transformação que se faz necessária.

É nesse sentido que desejamos promover o resgate do verdadeiro fundamento da ciência econômica e torná-la útil em nosso favor, usando a Economia como instrumento da construção do bem comum. Nesse pormenor, cabe ao economista entender o mundo e propor alternativas.

Ladislau Dowbor nos diz que “a economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais positivas, a evitar os impasses mais perigosos”.

Em nosso entendimento, a economia só faz sentido de ser e torna-se útil se, e somente se, agrupar em seu intento crescimento econômico (equilibrado), equilíbrio ecológico (meio ambiente sustentável) e progresso social (justiça e equidade). Fora disso, a Economia encontra-se totalmente desconectada da realidade.

Marcus Eduardo de Oliveira
Economista, mestre pela USP e professor universitário. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O nosso maior pensador vivo

Uma entrevista muito interessante, com um dos maiores nomes da ciência brasileira.

Link original: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=925881&tit=O-nosso-maior-pensador-vivo

Publicado em 20/09/2009 | Breno Baldrati

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Entrevista com Newton Carneiro Affonso da Costa, matemático e filósofo

Pouca gente sabe, mas Curitiba pariu um dos intelectuais brasileiros mais reconhecidos mundialmente. Newton Carneiro Affonso da Costa, hoje com 80 anos, morador de Florianópolis, revolucionou o campo da lógica ao desenvolver a Teoria Paraconsistente, segundo a qual uma sentença e sua negação podem ser ambas verdadeiras (leia mais ao lado).

Nascido na capital paranaense às vésperas da maior crise econômica de todos os tempos, em 1929, Newton formou-se na Universi­dade Federal do Paraná em Enge­nharia e Filosofia. Tornou-se catedrático de Matemática e mais tarde transferiu-se para São Paulo, onde lecionou na Unicamp e na USP. Nesta entrevista, ele fala sobre suas teorias, o ambiente intelectual brasileiro, religião e felicidade.

Como foi a sua formação?

Fui muito influenciado por um tio, Milton Carneiro, também professor da UFPR, que discutia muito filosofia e lia muitos livros comigo. Por outro lado, na minha família, todos se interessavam por política, assuntos atuais, e eu fui tomando conhecimento dessas áreas, inclusive autodidaticamente, e acabei me interessando enormemente pela ciência. Minha mãe achava que, sempre que possível, a gente não devia falar na primeira pessoa. Mas tratar de idéias, de coisas ge­­rais. Por exemplo, discutir política, aspectos filosóficos da vida, e não se preocupar tanto com os acidentes terrenos nossos.

Por que deixou Curitiba?

Não tenho queixa nenhuma da UFPR. Mas a universidade na época não me oferecia as coisas que eu queria. Era difícil trazer professores para a universidade ou obter bolsas para o exterior. A biblioteca era meio limitada e não havia verbas para pesquisas. Então achei mais interessante ir para a USP ou a Unicamp, onde havia condições mais interessantes para trabalhos científicos.

O que acha do ambiente intelectual brasileiro?

Está melhorando, mas ainda está muito atrasado. A USP e Unicamp, na classificação geral das universidades, estão bem longe da primeira, que no momento é Harvard.

Para melhorar, o que é mais ur­­gente?

Para começar, uma reforma completa no ensino secundário. O ensino secundário no Brasil é lamentável. Não há boa universidade sem base. Não é possível. Sem uma formação boa, de amor à ciência, de interesses outros além de futebol, não vão para frente a tecnologia e a ciência brasileira. É claro que na base de tudo isso está a família. O interesse fundamental por certos valores do espírito, na minha opinião, tem que nascer.

O senhor acha que é devidamente reconhecido pela academia brasileira?

De um modo geral, no Brasil, a pessoa que produz em ciência e filosofia é pouco conhecida. Seria desejável que as coisas mudassem. Pou­­co conhecido não só do “povão”, isso é razoável, mas também não se conhece os nossos colegas estão fazendo. Ninguém sabe o que está sendo feito em outras áreas. Quase tudo que é feito de bom é publicado em inglês. Publicar em português, em áreas como matemática, física, química, é perda de tempo. Ninguém lê. Cientificamente, português é uma língua praticamente morta. Nem os espanhóis entendem direito português.

Como o senhor explica a lógica paraconsistente?

A lógica paraconsistente, para ser explicada de uma maneira simples e fácil, é muito difícil. Mas dá para dar uma idéia geral. A lógica padrão, que normalmente se utiliza, não consegue dar conta, de uma maneira sensata, quando há informações contraditórias. Então você precisa de uma lógica especial. Vou dar um exemplo típico do que ocorre. Um sistema especialista, por exemplo, em medicina, é um sistema computacional que recebe milhares de informações de médicos. Os especialistas são en­­trevistados pelo que a gente chama de engenheiros do conhecimento. Depois essas informações são jogadas no computador, no sistema es­­pecialista. É óbvio que essas vá­­rias afirmações e suposições dos vários médicos divergem entre si. Um médico quer aplicar num tratamento cardíaco uma determinada técnica. Outro quer outra. No com­­putador, se a gente não usar uma lógica adequada, o sistema co­­­­lapsa. Uma das alternativas é a ló­­gica paraconsistente. Por outro lado, ela tem também um grande valor filosófico. Ela foi aplicada a diversas áreas, como economia, filosofia e computação

E a Teoria da Quase-verdade, tam­­­­­­bém desenvolvida pelo se­­nhor?

Foi outro caminho que eu procurei abrir. Na física, por exemplo, sistematicamente o físico lança mão de teorias que são incompatíveis en­­tre si. Na base das grandes teorias físicas, por diversas razões, em vez de falar de teorias verdadeiras, prefiro falar de teorias quase-verdadeiras.

O senhor diz que verdade é restrita a certas circunstâncias.

Em parte é. Quando você vai fazer relatividade geral, você deixa de la­­do forças elétricas, magnéticas, uma série de coisas. Você supõe uma série de restrições, e trata de um caso de certa forma idealizado. Isso é exatamente o que se faz na quase-verdade. É a formulação ri-­­ gorosa do que os filósofos chamam de “salvar as aparências”.

Uma das críticas que o senhor combate sobre a lógica paraconsistente é que ela tenta destruir a lógica clássica...

A lógica paraconsistente não destrói a lógica clássica, ela amplia. To­­do mundo diz que a relatividade destruiu a mecânica newtoniana. Isso é falso. Sem mecânica newtoniana não haveria relatividade. Sem dúvida, em sua área, a lógica paraconsistente é uma mudança de paradigma. Até ela ser desenvol­­vida, ninguém aceitava, e ainda muitos não aceitam, que pudesse existir uma lógica diferente da ló­­gica clássica. Só existia a lógica clássica. Foi uma mudança radical.

Que teoria o senhor gostaria de estar vivo para ver comprovada?

Uma das coisas que eu no momento mais gostaria é que a Teoria das Cordas, em física, funcionasse. Que de fato se chegasse à conclusão de que ela é realmente o que se quer dela: uma unificação completa da física. Seria um dos grandes saltos paradigmáticos da física e da ciência em geral. E indiretamente da própria lógica.

Como cientista, o senhor acredita em alguma coisa que não possa ser comprovada?

Sem dúvida, mas isso não é ciência. Seria uma coisa meta-científica. Muita gente acredita em Deus, mas, por enquanto, isso é inacessível à ciência. Eu não tenho nada contra quem acredita num Deus de barba e etc, como aparece na Bí­­blia. Eu não tenho nenhuma religião formal, mas no fundo penso mais ou menos como Einstein pensava. Existe uma força, existe algo, que seria muito difícil de descrever em palavras, é mais uma coisa de intuição. Há uma certa ordem, uma certa força na natureza, mas não personificada, como usualmente vemos. Isso não.

Como é sua visão política?

Está tão ruim a política no Brasil, que eu me afastei completamente. Era um tema que me interessava quando jovem. Mas vendo essas bar­­baridades de hoje, eu fico pasmo, paralisado. Não sei o que fazer. Até porque já tenho uma certa idade.

O que o senhor recomenda para quem tem interesse em filosofia?

Os problemas da filosofia, de Bertrand Russell. E também entrar num bom curso de filosofia. Sem um curso, sem a necessidade de discutir com colegas de nível, não se pode fazer nada.

A felicidade plena é possível?

Acho meio difícil. Uma das coisas que sempre me influenciou foi uma frase de David Copperfield, herói de Charles Dickens. Ele diz: “Serei eu herói da minha própria vida?” Eu digo o seguinte: a maioria das pessoas é náufraga na própria vida. E, sendo náufraga, é difícil ser feliz.

Como deixar de ser náufrago?

É muito difícil. Na verdade, você nas­­ce e morre sem saber por quê. Se a pessoa acreditar na religião, ela pode superar esses problemas. Mas, se quiser ter uma atitude racional, é o náufrago, não tem solução. Por isso, ser ignorante ou meio burróide é formidável. A felicidade está em se sentir bem. Eu quando estou trabalhando com as minhas coisas, minhas pesquisas, me sinto bem, e aí ei sinto feliz. A família e a vida amorosa também são importantes.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A economia da confiança

Por Oscar Motomura*

Sem ética, não há desenvolvimento econômico.

Quando todos confiam, tudo flui, sem análises excessivas e negociações penosas.


Há alguns anos entrevistei o economista Jeffrey Sachs, na época em Harvard. O mote de nossa conversa: sem confiança não é possível otimizar a economia de um país. Numa sociedade movida pelo interesse próprio, em que cada um tenta obter o máximo para si, em que tudo é uma questão de troca na base do “toma lá dá cá” e até favor deixa o outro devedor (“Você fica me devendo essa...”), tudo parece contribuir para um clima geral de desconfiança e defensividade. Não seria esse tipo de contexto que acaba gerando a busca de resultados máximos para si a qualquer preço? Não seria isso que gera a corrupção, que, por sua vez, potencializa a desconfiança em relação a tudo e a todos? Não seria assim que se geram resultados, na economia, que representam só uma mera fração do que uma sociedade é capaz de realizar quando prevalece a confiança e todos se empenham pela evolução de todos?

Costumo provocar os líderes que participam de nossos programas com perguntas sobre o custo da desconfiança: “Vocês têm ideia do ‘custo controle’ em nosso país? E em nossas próprias organizações?”. Estamos tão habituados com os sistemas e controles ao nosso redor que nem sequer reparamos no imenso nonsense que a cultura da desconfiança provoca em nosso modo de vida, nas organizações e na própria sociedade.

Mas é possível criar sistemas em que tudo aconteça num ambiente de confiança e ética? Esses sistemas sobreviveriam no mundo em que vivemos hoje? Sem dúvida. Veja o caso do Grameen Bank, criado pelo Nobel da Paz Muhammad Yunus. Um banco de Bangladesh que nasceu e cresceu centrado no valor da confiança. Embora se façam ali operações sem documentos, a inadimplência é baixíssima. Isso porque a confiança (depositada pelo banco no cliente de baixa renda) passa a ser o maior ativo do cliente (confiança que lhe assegurará apoio contínuo do banco e de todos os outros agentes da sociedade). Um ativo precioso que a pessoa nunca vai querer perder.

O Grameen Bank, criado por Muhammad Yunus, Nobel da Paz,
cresceu centrado no valor da confiança

Esse é o caso dos diversos tipos de cooperativas do mundo todo. E também do trabalho em conjunto entre pessoas e organizações que, com o tempo, em função de experiências positivas constantes, desenvolvem uma relação de tal respeito e confiança capazes de viabilizar negócios que seriam simplesmente impossíveis na “economia da desconfiança”. Quando todos confiam, tudo flui, sem análises excessivas e negociações penosas, que não só tiram a agilidade do processo mas também reduzem, muitas vezes de forma drástica, o potencial de resultados de cada oportunidade.

Até que ponto as recentes turbulências globais indicam a necessidade de revermos nossos sistemas de relacionamento e trabalho em conjunto? Será que num contexto de confiança plena – em que todos trabalhem pelo bem comum – teríamos chegado ao ponto de gerar consistentemente crises econômicas, problemas ambientais, guerras e todo o tipo de violência que testemunhamos em todo o mundo?

*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão e estratégia.

sábado, 22 de agosto de 2009

ALUNOS DAS FACULDADES SANTA CRUZ DE CURITIBA GANHAM PRÊMIO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Nós, os alunos Priscila Saito, W. Junior, os idealizadores do Economind, temos o orgulho - com certo atraso - de mostrar nosso prêmio "Espírito Sife", o qual ganhamos no último Sife Brasil, realizado em São Paulo. Pra quem ainda não sabe, nos fazemos parte da diretoria do Time Sife Santa Cruz (juntamente com os alunos Irene Starepravo, e Ronan Bérgamo).

A Sife pra quem não conhece, funciona como uma ponte entre a universidade, e os grandes líderes empresariais, e os times Sife, com o apoio da faculdade e dos professores conselheiros, realizam projetos sociais que possuam viabilidade e sigam alguns critérios Sife. Os projetos são de inteira responsabilidade dos times, e cabe aos professores e à faculdade o auxílio para atingir tal meta. A Sife não dá nenhuma recompensa financeira pelos projetos, mas o Campeonato Sife funciona como uma vitrine de projetos e uma grande reunião de jovens líderes, empreendedores, que apresentam seus projetos para grandes líderes do mundo empresarial, e competem pelo melhor projeto a ser classificado para o Sife World Cup, que ano que vem será na Alemanha. Nosso projeto basicamente consiste na redução de custos da Associação San Julian, de dependentes químicos, com a produção de pães, além de servir como terapia ocupacional para a manutenção da abstinência, e quebrar fortes paradigmas da sociedade.

No último dia 21 e no próximo dia 28, estaremos realizando uma palestra sobre o Sife Brasil, esclarecendo, e reunindo alunos interessados em carregar consigo o selo Sife no currículo. A palestra será no Campus Bonat das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba.

Abaixo o texto publicado no site da faculdade, e algumas fotos, e em breve explicaremos o que temos feito na realização deste projeto.

Link original: http://www.santacruz.br/v3/news/premio_sife/

ALUNOS DAS FACULDADES SANTA CRUZ DE CURITIBA GANHAM PRÊMIO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Os alunos do curso de Economia das Faculdades Santa Cruz de Curitiba, que compõem o Time Sife Santa Cruz, ganharam o prêmio nacional Espírito Sife Cargill. Esse prêmio é dado aos projetos de empreendedorismo social que conseguiram atingir todos os pré-requisitos necessários para qualificar um projeto desse tipo. O time Sife Santa Cruz foi o único representante paranaense a ganhar esse reconhecimento.

O projeto apresentado pelo time Sife Santa Cruz, intitulado RECEITA DE UMA NOVA VIDA (Leia o resumo do projeto clicando aqui.), pretende inserir em uma associação que reabilita jovens dependentes químicos (Associação San Julian de Piraquara - PR) práticas de empreendedorismo capazes de viabilizar, a um só tempo, a geração de renda para a instituição e a reinserção dos internos no mercado de trabalho. A proposta é potencializar a padaria da associação e vender os produtos, com um selo de responsabilidade social, para empresas patrocinadoras.

O Campeonato SIFE Brasil 2009, realizado em julho desse ano, na cidade de São Paulo, teve como missão reunir num único espaço líderes e ações que fazem a diferença na vida de pessoas reais combatendo problemas reais. Nos dias 14, 15 e 16, a comunidade corporativa do Brasil, representada por grandes empresas nacionais e multinacionais, conheceu uma nova geração de líderes que possuem mente para os negócios e coração para o mundo. Tais habilidades, no universo corporativo, denotam uma união que vai além do que é ensinado em sala de aula e agregam valor à constituição de uma comunidade mais ética, empreendedora e sustentável.

O Sife é uma instituição sem fins lucrativos que atua nas universidades do mundo inteiro incentivando o espírito empreendedor. Maiores informações sobre o Sife no site: http://www.sife.org/worldcup/index.asp

Estamos muito orgulhosos dessa grande façanha, que mostra a qualidade de ensino e o comprometimento social das Faculdades Santa Cruz de Curitiba






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terça-feira, 28 de julho de 2009

Acupuntura Social: Mudando o Mundo com Agulhas Rotaractianas

Leonardo Jianoti*

Você já pensou em ajudar alguém e não sabia como? Ou pensou que sua passagem por esse mundo poderia ser mais significativa? Você já pensou se mais gente se sente ou pensa assim como você? E ainda, você já sentiu que não pode fazer a diferença?


Essas perguntas vão e vem para milhares de pessoas que tem no coração alguma vontade de ajudar alguém. O que mais tenho percebido pelos lugares onde estive é que o discurso de “fazer a minha parte” nas ações sociais resulta em muita frustração nas pessoas que fazem muito e não mudam nada.


Fica uma sensação de energia desperdiçada depois de uma ação sem resultado efetivo. Ao invés de desistir ou negar a falta de resultado, acredito que a situação pode ser revertida a partir do momento que qualquer ação social, seja ela simples ou de grande complexidade, consiga ser estrategicamente pensada.


O desafio começa no momento em que olhamos os objetivos: eles nunca estão baseados num diagnóstico ou análise prévia da situação. Ou seja, a solução se torna maior e vem antes do problema. Logo, antes de qualquer coisa, um entendimento completo do problema é fundamental. E quando digo entendimento, me refiro a entender as causas das causas do que é aparente. Faça perguntas ao “problema”. Por que isso acontece(u)? Quais são as variáveis que impactam? Entenda o fenômeno que está vendo. Lembre-se que uma dor de cabeça pode ser qualquer coisa, as causas são muito variadas, assim são também dos problemas sociais.


Outra questão é que não basta fazer sua parte. O problema deve ser solucionado ou pelo menos as condições para tal devem ser criadas. Não se pode contentar com uma ação realizada simplesmente. Ela deve ter sido realizada e gerado resultado. Sem resultado a ação não deveria ter acontecido.


Porém, reconhecendo que qualquer um de nós é muito pequeno perante os problemas que afligem nossas comunidades, o que fazer?


Foi com essa frase martelando meus pensamentos que conheci os conceitos da acupuntura. Apesar de ser uma prática milenar, ela é extremamente atual e pertinente para nossa discussão. A acupuntura basicamente busca que pequenas ações tenham grandes impactos. Ou seja, que uma atividade bem pensada pode gerar resultados muito maiores do que se poderia imaginar na vã filosofia.


Por que não pensar assim em nossos projetos?


Foi nessa onda entusiástica de um rotaractiano enlouquecido que comecei a falar da Acupuntura Social. A idéia é distribuir agulhas por todo mundo para que possam organizar pequenas atividades que gerem o maior impacto possível. Cada pessoa que queira fazer parte do movimento deve se comprometer com alguns princípios:


1.) Mais vale um bom diagnóstico na mão do que dois bons projetos prontos voando.

Qual a causa da causa do “sintoma” que é visível? Quais os agentes envolvidos? O que já foi feito para solucionar?


2.) Antes de atirar, mire bem antes.

O que gera mais impacto com menor esforço? Onde nossa contribuição será mais benéfica?


3.) Avalie, avalie e aprenda.

O que deu certo? O que deu errado? O que faremos para corrigir os erros e melhorar os acertos?


A Acupuntura Social não é um projeto, é uma filosofia. Adapte, critique ou faça a sua. Mas, por favor, não ignore seu poder de transformação. Se algo fez sentido para você nas linhas acima, venha fazer parte dessa rede e seja uma agulha da mudança.


* Leonardo Jianoti é Economista , Coordenador de Projetos da STCP e Rotaractiano do Rotaract Clube de Curitiba Rebouças do Distrito 4730.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Considerações Sobre A Manipulação da Mídia E Sua Relação Com A Elite Empresarial no Brasil

Por Edilaine C. Prado*

A esquerda não morreu, continua muito viva e incomodando o capital. Isso pode ser evidenciado, nas tentativas desesperadas, de forma explicita e desavergonhada dos representantes do capital contra qualquer movimento social. Isso demonstra que reconhecem haver fragilidades neste sistema, oriundos das grandes distorções no qual se sustenta o capitalismo. Atacam de forma despudorada qualquer opinião, posição contraria aos interesses do capital. Não faz muito, o jornalista Boris Casoy, disse em seu telejornal, que o atraso brasileiro é devido a ainda existirem neste país, militantes do comunismo, ao se referir a Oscar Niemayer. E ainda a mídia nacional, tem coragem de dizer que é imparcial e que defende a liberdade de expressão. Isso sem contar as distorções criadas a cerca de Gilmar Mendes, do delegado Protogenes e outros tantos casos de grande demonstração de inversão de valores que só vem a confirmar o seu caráter partidário.

Mas o que mais tem chamado a atenção, é que ela tem demonstrado de forma sutil mas não menos perversa que esta sim a serviço do capital, como não poderia deixar de ser, pois, trata-se por si só o grande capital. Atuando de forma inescrupulosa através de concessões, que só são possíveis, porque são sustentadas pela elite que manda e desmanda,e que a muito vem sugando o Brasil, reforçam seu poder através da influencias da opinião publica nos meios de comunicação.

Frequentemente tem havido uma tentativa, que dado o nível de alienação, educação e ausência de oposição forte tem sido bem sucedida, de anestesiar as revoltas populares que a crise poderia desencadear – obedecendo a cartilha de interesses liberais, a mídia, TV por concessão, fazendo parecer que o desemprego é opcional, que o mercado não rejeita bons profissionais, então de certa forma emprego tem, o que falta é o profissional bem qualificado, que não é bem no sentido de escolaridade, ou capacitação profissional, é de características muitas vezes psicológicas. Como cada pessoa é diferente uma das outras, as pessoas que não atendem a exigências muitas vezes absurdas é excluída, alias, excluir é a base do sistema capitalista. Ele precisa constantemente criar desigualdades e desequilíbrios, para se sustentar – assim, não possuir as características que o mercado exige é considerado uma incompetência. Programas como “O aprendiz-universitário” ou qualquer que seja, podem evidenciar este aspecto.

Outro aspecto relevante é o fato de se dar voz ativa somente a um dos lados da grande luta desigual “trabalho e capital” evidentemente para o lado mais forte, o do capital. As justificativas apresentadas por Paulo Skaf, têm sido reproduzidas como verdades absolutas. Parecem querer nos fazer acreditar em uma figura angelical para o empresariado brasileiro, como se esquecêssemos de toda a herança histórica da trajetória da industrialização e criação desta elite brasileira.

Um aspecto interessante é a busca da quebra de valores na tentativa de ascender a selvageria humana, assim fazendo a justificação dos meios para explicar os fins. Parece ter no individualismo seu maior lema - quase como os clássicos queriam o egoísmo como algo bom para todos - quer por em pé de igualdade empresas e trabalhadores. Todos buscando o seu melhor, oferecem o melhor, e obtém o melhor. Se isso é verdade aquele que não tem é devido a não ofereceu o melhor, isso justifica tudo na visão clássica, os outros não passam de incompetentes. Mas se é verdade o egoísmo humano, os empresários lidera a aplicação do egoísmo, invictos, não seriam eles a pensar nos seus empregados, o grande comprometimento que as empresas tem é com seus lucros.

Diferentemente do que quer Boris Casoy, o atraso brasileiro, esta na verdade intimamente ligada a incompetência das empresas brasileiras, dos empresários brasileiros. Muitos apontam o padrão de industrialização, o grande problema, a substituição de importação, que consiste em produzir internamente o que antes se importava. Mas antes disso, penso que devemos nos atentar que não só o padrão nos leva a essa situação, mas também, a elite nacional, aqueles que sempre mandaram no país, nomes repetidos eleição pos eleição.

Todo inicio de industrialização é protegida pelo Estado, o que é chamado na literatura de proteção da indústria nascente, que se justifica ao fato de que a indústria que nasce, esta em desvantagem as demais já consolidadas no mercado mundial. Então para que possa existir, o Estado estabelece barreiras tarifarias e não tarifarias a fim de não expor a recente indústria a concorrência externa.
A teoria industrial diz que isso deve ocorrer até que esta indústria, através de ganhos de escala, possa se modernizar, até chegar próximo dos padrões internacionais. Fato é que as empresas por serem protegidas, se sentem numa zona de conforto, não se modernizam. Então o papel do Estado é de cobrar uma postura mais competitiva, afinal foi ele quem custeou a sobrevivência desta indústria. Acontece que o Estado brasileiro sempre foi cenário para a promoção de interesses de uma determinada elite. O Estado brasileiro não fez essa cobrança por que é a própria elite, e não vai mudar políticas industriais ao menos que estas lhe sejam convenientes. Ou seja, a elite empresarial, é sempre foi muito bem representada no ambiente governamental, representada por ela mesma.

Outros países como a Coréia do Sul, tiveram, alem do padrão de industrialização que se voltou ao mercado externo, a ação do Estado, em não apenas subsidiar, mas também fiscalizar a efetividade do que se propõe as políticas industriais. No Brasil isso não ocorreu, pois iria de contra aos interesses da elite.

A abertura comercial em 1990 e depois a estabilização monetária em 1994, não contrariam este fato, pois como dizem por aí “uns se mexem com a cenoura na frente, outros com ela atrás”. A abertura comercial e estabilização ao contrario do que parece é “a cenoura na frente”. Foi na verdade de encontro com os interesses da elite nacional.
Essas medidas viabilizaram a reestruturação produtiva e aumento da produtividade. Melhoras condicionadas pelo alargamento do horizonte temporal das empresas, que foi possível pela estabilidade monetária, a redução drástica da inflação. Inflação que, alias, em grande medida era culpa da própria comunidade empresarial, ao atuarem no mercado financeiro, eram beneficiadas pela inflação. A atividade principal de muitas empresas industriais, era neste período, o mercado financeiro, preferiam a atividade financeira a produtiva, apresentando capacidade ociosa, o que em um país com histórica demanda reprimida, representa uma grande contradição.

A elite empresarial se consolidou. Com a abertura comercial e estabilização muitas pequenas empresas foram extintas, beneficiando as grandes empresas. Alem disso, na medida em que estas empresas menores iam quebrando, sendo extintas, muitos trabalhadores eram demitidos, beneficiando novamente a elite empresarial, que pode contar com aumento ponderável do exercito de reserva.
A abertura comercial e estabilização não representaram efetivamente, melhorar o padrão competitivo nacional, foi mais uma forma de descartar empresas menores, possibilitar a reestruturação produtiva organizacional, principalmente, pela grande disponibilidade de mão-de-obra, e pela terceirização de parte do processo produtivo ,bem como, pela importação de partes e componentes tornados mais baratos pela sobrevalorização do real.

Claro que no pós abertura e estabilização, houve naquele momento grande modernização, não só das empresas nacionais sobreviventes, mas também trazida pelas multinacionais que aqui se instalaram, atraídas pelas excelentes oportunidades: privatização dos “sauros” e preços vantajosos das empresas em dificuldades. Mas, passados quase 20 anos da abertura e 15 da estabilização, a elite empresarial continua a ser protegida da concorrência externa, sob a alegação de preservação dos empregos por ela gerada, o que esconde o verdadeiro motivo do proteger os seus lucros. Alem do que as empresas, ainda apresentam padrões que ficam muito aquém dos internacionais. Isso porque não lhe é conveniente modernizar, pois representa custo que julgam desnecessários, já que tem o mercado nacional protegido.

Não podemos defender aqui a retirada de barreiras do mercado brasileiro, pois isso resultaria certamente em desemprego, mas que o argumento recorrente, de defender os empregos, não é o motivo pelo qual o mercado nacional é protegido.

Com relação ao padrão de industrialização brasileira, diante destas expositivas acima, não parece ser o principal problema do atraso brasileiro. Afinal, quando a indústria esta voltada ao mercado nacional, em um momento de crise como este, pelo qual passa a economia mundial, o país tem melhores condições de enfrentamento, pois depende de fatores que lhe é interno, assim tendo o país maiores domínios sobre os fatores que afetam sua economia.

(*) Estudante do 8º período de Ciências Econômicas – Faculdades Integradas Santa Cruz. - Inove.

- O blog "Econo-Mind", é um espaço de divulgação das idéias de alunos, professores, ou quaisquer interessados em expôr seu ponto de vista com o objetivo de mostrar a importância da formação do economista na sociedade.

- Cada artigo é de responsabilidade dos autores e as idéias nele inseridos, não necessariamente, refletem o pensamento dos administradores do blog.

domingo, 24 de maio de 2009

A relação de igualdade entre a riqueza e a fome

W. Junior*

A velha questão brasileira – muito citada em períodos eleitorais – de redução das desigualdades sociais, que envolve diretamente a distribuição da renda, vem sendo citada no passar dos anos por inúmeras entidades. Cada uma, seja ela o governo, ou privada, apresenta soluções diversas, porém no que toca a tributação, e neste caso específico, sobre a cesta básica de alimentos, é pouco mencionada. O artigo “Tributação, Distribuição de Renda e Pobreza: Uma Análise dos Impactos da Carga Tributária Sobre Alimentação nas Grandes Regiões Urbanas Brasileiras”, elaborado pelos pesquisadores da DISET (Diretoria de Estudos Sociais) reúne diversos índices que comprovam de maneira bastante clara que a isenção – ou redução - da carga tributária sobre os alimentos, mais especificamente o ICMS e o PIS/COFINS, contribuiria significativamente no processo de diminuir a igualdade entre as classes, um problema muito atual das economias emergentes.

Segundo dados do POF/IBGE – de 1995/1996 -, as áreas mais atingidas pela desigualdade de renda, pertence à região nordeste do país, mais as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife e Salvador, onde o peso dos tributos sobre os alimentos atingem a marca média de 18%. Mesmo nas regiões onde já existem reduções nas alíquotas de ICMS, como São Paulo, Porto Alegre e Recife, os tributos compreendem cerca de 11% do valor da cesta. São números muito expressivos, quando se percebe que alimentos de propriedade básica e essencial para uma dieta saudável como os tradicionais arroz e feijão, e mesmo farinha de trigo, ovos, pão francês, carnes tenham maior peso nos impostos, cerca de 15%. Leite e ovos, têm um peso entre 5 e 10%. Pode parecer uma medida muito boa, a isenção dos impostos para alimentos como limão, banana, peixes e tomate: não para um país tropical como o Brasil. Os alimentos que menos pesariam em termos de renda no bolso do consumidor mais pobre, são aqueles que têm os impostos reduzidos: mera coincidência, ou esperteza política mascarada de medidas populistas? Para o contigente mais pobre brasileiro já delimitado acima, e que ganha até dois salários mínimos, em média os impostos nos alimentos representam 7% de suas rendas. Já quem recebe entre 10 e 15 salários mínimos, insignificantes 2% de sua renda são tributos. Para ser um pouco menos agressivo pode-se citar São Paulo e Rio de Janeiro onde a carga tributária engole 4% de renda da classe baixa, e apenas 0,3% em média é tributo na renda das classes mais altas.

Não faltam exemplos nem comparações numéricas que mostrem o impacto desta redução nos impostos, exclusivamente sobre os mais afetados nas desigualdades de renda – isso se levando em conta o total repasse da diminuição dos impostos ao consumidor. Os índices de indigência e pobreza no país são aspectos relevantes de serem lembrados: nas regiões desfavorecidas a redução de indigentes, por exemplo, fica em torno de 25%. O artigo analisado também compara o índice de Gini, - que mede o grau de distribuição de renda, onde 0 representa completa igualdade de renda, e 1 completa desigualdade - com o impacto do Plano Real na Economia que foi 2,02% entre 1993 e 1997. Como exemplo, uma simulação de isenção da carga tributária sobre os alimentos em Fortaleza, fez com que o índice de Gini caísse1,11%. Mesmo calculando o impacto médio de todos as onze áreas urbanas da tabela 2 do artigo, temos ainda um impacto de 1,006%, ou seja, metade do impacto do Plano Real, que por sua vez é uma medida muito mais extravagante para ser feita que o decreto de redução de tais impostos, visto também que estamos falando de tributos sobre os únicos meios de subsistência da classe baixa, e não de um carro de luxo ou roupa de grife.

Não desmerecendo medidas governamentais que muito se ouve falar como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Fome Zero, e muitas outras que atacam esse problema da distribuição, pouco se fala de redução na carga tributária dos alimentos, apesar da comprovada relevância percebida nos estudos relacionados. Parece contraditório, mas o Brasil, é o 3º país no ranking mundial da concentração de riqueza, 6º em ranking de poder de compra, 10º no ranking das maiores economias mundiais. Ao mesmo tempo é o 24º lugar no ranking da fome - calculado para 118 países pelo Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI) -, é onde os 10 por cento mais ricos da população detêm 46,9 por cento da renda nacional e os 10 por cento mais pobres apenas 0,7 por cento, - segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - , ocupa o 63º lugar quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e ainda 1% dos brasileiros mais ricos --1,7 milhão de pessoas-- detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). É neste país de paradoxos que carrega desde a época colonial diferenças que dividem a sociedade entre os que têm tudo e os que nada têm, que se precisa agir rapidamente, para que a grande maioria dos 183,9 milhões de habitantes (dados do IBGE – dezembro de 2007), possa garantir seu direito à vida de forma digna, o que tem sido muito difícil para muitos.


(*) Compositor musical e estudante do 5º período de Ciências Econômicas – Faculdades Integradas Santa Cruz. - Inove.

- O blog "Econo-Mind", é um espaço de divulgação das idéias de alunos, professores, ou quaisquer interessados em expôr seu ponto de vista com o objetivo de mostrar a importância da formação do economista na sociedade.

- Cada artigo é de responsabilidade dos autores e as idéias nele inseridos, não necessariamente, refletem o pensamento dos administradores do blog.


Fontes: http://www.cartamaior.com.br
http://www.administradores.com.br
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2007/03/21/295018713.asp
http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2529&Itemid=2
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13429
http://www.corecon-rj.org.br/pdf/je_mar2005.pdf
http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2005/09/07/Brasil/Desigualdade_de_renda_no_Brasil_e.shtml